domingo, 29 de maio de 2011

Desenvolvimento Moral - Piaget

O desenvolvimento moral pode ser observado no jogo, se se quer compreender algo moral da criança tem que se começar pela análise destes dados. Toda a moral consiste num sistema de regras e a exigência de qualquer moralidade deve ser o respeito que o indivíduo adquire por estas regras.
A maioria das regras morais que a criança aprende a respeitar, recebe-as do adulto, quer dizer, apresentam-se já elaboradas e, muitas vezes, elaboradas não à medida que vai necessitando delas e pensadas para si, mas através da sucessão ininterrupta das gerações adultas anteriores. Daqui surge a extrema dificuldade de uma análise que deveria constituir o ponto de partida entre o que vim do conteúdo das regras e o que vem do respeito que a criança sente pelos seus pais/adultos.
Em relação à obediência às regras, segundo Piaget, podem identificar-se dois estádios. O primeiro, da heteronomia moral em que a criança obedece à regra como se ela fosse uma lei sagrada (respeito místico pela regra).
No segundo, da autonomia moral a criança já tem consciência da regra que vale por si, consideram-se iguais aos pares e é neste estádio que se estabelece uma cooperação real caracterizada pela satisfação pessoal de ser membro de uma comunidade.
A partir dos 10 anos, quando se observa o jogo da criança, a consciência da regra transforma-se completamente. À heteronomia sucede a autonomia: a regra do jogo apresenta-se à criança já não como uma regra exterior, sagrada enquanto imposta pelos adultos,mas como resultado de uma livre decisão, e como digna de respeito na medida em que há um consentimento mútuo entre pares.

Desenvolvimento Moral - Kohlberg

Para Kohlberg, passamos por uma série de estádios na evolução do nosso sentido de justiça e do tipo de raciocínio que utilizamos para fazer julgamentos morais. Fundamentalmente pelas limitações cognitivas descritivas de Piaget, os pré-adolescentes tendem a pensar em termos de regras concretas e invariantes ("Está sempre errado roubar" ou "serei castigada se roubar") ou em termos das regras da sociedade ("As pessoas boas não roubam" ou "O que seria se toda a gente roubasse?").
No entanto, os adolescentes são capazes de raciocinar a um nível mais elevado, na medida em que, regra geral, atingiram o estádio das operações formais em termos da teoria de desenvolvimento cognitivo de Piaget. Na medida em que são capazes de compreender princípios morais abrangentes,conseguem compreender que a moralidade nem sempre é preto no branco e que podem existir conflitos entre dois conjuntos de padrões socialmente aceites.
Kohlberg dividiu o nível de raciocinio moral em três níveis, cada um com dois estádios:
Nível 1 - Pré-Convencional
          Estádio 1: Orientação para a obediência e a punição. Neste estádio, as pessoas obedecem às regras para evitar a punição, sendo a obediência "cega".
             Estádio 2: Orientação para a recompensa. As regras são seguidas pelo benefício do próprio. A obediência ocorre por causa das recompensas.

Nível 2 - Convencional
             Estádio 3: Moralidade da "boa pessoa". As pessoas neste estádio mostram interesse em manter o respeito dos outros e fazer aquilo que se espera delas.
             Estádio 4: Moralidade da autoridade e da manutenção social da ordem. As pessoas agem em conformidade com as regras da sociedade e consideram o "bem" como aquilo que a sociedade as define.

Nível 3 - Pós-Convencional
         Estádio 5: Moralidade do contrato, direitos individuais e lei democraticamente aceite. As pessoas fazem o que está correcto pelo sentido de obrigatoriedade às leis acordadas pela sociedade. Percebem que as leis podem ser modificadas em função de mudanças no contracto social implícito.
            Estádio 6: Moralidade dos princípios e da consciência individual. Neste estádio final, a pessoa segue as leis porque estas se baseiam em princípios éticos universais. Desobedece-se às que violam esses princípios.







sábado, 28 de maio de 2011

Desenvolvimento Pessoal - Erikson

Erickson através de oito estádios, explica os aspectos culturais do processo evolutivo da personalidade. Neste desenvolvimento, Erickson dá mais relevância ao período da adolescência, tendo em conta que é um período de transição da infância para a idade adulta onde ocorrem determinados acontecimentos relevantes para a personalidade adulta.
Tendo em conta que as crianças têm desenvolvimentos diferentes, não é correcto estabelecermos um tempo para cada estádio.
Para a construção da personalidade ou identidade pessoal, o conceito de crise é indispensável nesta teoria. No campo da Psicologia, em particular da Psicologia do Desenvolvimento, o conceito de crise é explicado como toda a situação de mudança a nível biológico, psicológico ou social, que exige da pessoa ou do grupo, um esforço suplementar para manter o equilíbrio ou estabilidade emocional. Corresponde a momentos da vida de uma pessoa ou de um grupo em que há ruptura na sua homeostase psíquica ou mudança dos elementos estabilizadores habituais.


Esta teoria concebe o desenvolvimento em oito estádios. 


O primeiro estádio – confiança/desconfiança – ocorre aproximadamente durante o primeiro ano de vida (0 - 18 meses). 
Nesta fase o bebé tem o seu primeiro contacto social, que geralmente é com a mãe. Para ele, a mãe é um ser supremo, mágico, aquele que fornece tudo o que ele necessita para estar bem. É necessário, portanto, que os educadores (pais, avós, família) tratem a criança com muita atenção, carinho e paciência para que a confiança, a segurança e o optimismo se consolidem. Sem esses sentimentos, a criança crescerá insegura e desconfiada.


Comentário: Sem dúvida que neste estádio a confiança é extremamente importante, porque uma criança que aprende a confiar nos outros e em si própria, conseguirá saciar os seus desejos e viver feliz.


O segundo estádio – autonomia/vergonha e dúvida – ocorre aproximadamente entre os 18 meses e os 3 anos.
Neste estádio existe alguma contradição entre a vontade própria da criança e as normas e regras sociais que a criança tem que começar a integrar. É uma fase de exploração do meio e do seu corpo. Apesar de quererem experimentar e arriscar, as crianças continuam a carecer de protecção. A criança deve de fazer as coisas de forma autónoma para que não perdure o sentimento de vergonha.


Comentário: Sem dúvida que a criança que quer experimenta gatinhar, e percebe que tem alguém por perto que o poderá proteger, deve de arriscar e os pais devem de estimular para que o seu desenvolvimento seja adequado e de maneira correcta.

O terceiro estádio – iniciativa/culpa – ocorre aproximadamente entre os 3 e os 6 anos. 
Neste estádio a criança já conseguiu a confiança, com o contacto inicial com a mãe, e a autonomia, com a expansão motora e o controle. Agora, cabe associar à autonomia e à confiança, a iniciativa, pela expansão intelectual. 
A combinação confiança-autonomia dá à criança um sentimento de determinação, alavanca para a iniciativa. 
Neste estádio a criança já deve de ser capaz de conseguir perceber o que deve ou não fazer. A criança experimenta todas as possibilidades de tomar iniciativas, mas se por exemplo os pais não aceitarem o que a criança fez, esta irá sentir-se culpada, mas caso os pais aceitem, esta irá sentir-se valorizada. 
Deve-se estimular a criança no sentido de que pode ser aquilo que imagina ser, sem sentir culpa.


O quarto estádio – indústria/inferioridade – decorre na idade escolar, antes da adolescência (6-12 anos).
Este estádio inicia-se com a entrada da criança para a escola, permitindo, assim, a vivência de uma grande quantidade de novas experiências, tendo a escola, também, como função o ensino das normas sociais vigentes, bem como a maneira como devem evoluir nos relacionamentos interpessoais, isto é, “no padrão de acção da sua sociedade”. 
A criança vai encontrar no trabalho a forma regulada e metódica, o que lhe dará a sensação de ordem e conquista, preparando-a para o futuro que aos poucos vai passando a ser uma das suas preocupações, havendo assim uma iniciação no campo das responsabilidades e dos planeamentos.


O quinto estádio – identidade/confusão de identidade – marca o período de adolescência (12-18/20 anos). 
A adolescência, é uma das etapas do desenvolvimento humano caracterizada por alterações físicas, mentais e sociais, que recebem interpretações, significados e tratamentos diferentes, dependendo da época e da cultura na qual o indivíduo está inserido. 
É um estádio de transição entre a infância e a idade adulta, em que os jovens não evidenciam um comportamento específico, nem de criança, nem de adulto. Este estádio ocorre juntamente com outras mudanças físicas e psicológicas, tais como crescimento dos pêlos púbicos, amadurecimento, e principalmente, alta produção de hormonas, tanto masculinas como femininas, que alteram as condições emocionais do jovem, causando muitas vezes mau humor, depressão e outros sintomas facilmente evidenciados. A adolescência constitui um período de moratória psicossocial que se caracteriza pela liberdade experienciada pelo jovem para experimentar papéis e estilos de vida adultos, tais como: o uso de drogas, bebidas alcoólicas, cigarros, iniciação da relação sexual, bem como o desenvolver de uma gestação, enquanto se completa a definição da identidade do “eu”, a qual se subordina a identificações infantis. 
Para Erikson, é nesta fase que se dá a maior transformação no indivíduo. Erikson definiu este estádio como sendo de “tempestades e stress”, visto que os conflitos nesse estágio de desenvolvimento podem ser considerados normais. Um adolescente que se torna rebelde, está, muitas vezes, em confronto consigo mesmo para construir a sua própria identidade e personalidade. É um momento de individualização, pois essa personalidade torna-se única e homogénea, contudo, ainda está à procura de assimilações. O indivíduo, a pouco e pouco, começa a tornar-se ele próprio. 
Neste estádio, os indivíduos estão repletos de novas potencialidades cognitivas, exploram e ensaiam estatutos e papéis sociais, pois a sociedade fornece-se-lhes esse espaço de experimentação ao adolescente. É neste âmbito que ressalta um dos conceitos eriksonianos que ajuda a conferir tanta relevância a este estádio, ou seja, à moratória psicossocial. Este é um estádio de espera dos compromissos do adulto. Assim sendo, o adolescente antecipa o seu futuro, explora alternativas, experimenta e dá um tempo. 
O ego neste estádio tem a peculiaridade de apurar e inteirar talentos, aptidões e habilidades na identificação com pessoas semelhantes ao indivíduo em questão e na acomodação ao ambiente social. A chave para a resolução da crise de identidade, que pode fazer com que o adolescente se sinta isolado, vazio, ansioso e indeciso, reside na interacção com pessoas que lhe são significativas, que são escolhidas e são parte integrante da construção da sua identidade adulta.
Erikson diz que o ser humano mantém as suas defesas para sobreviver. Ao sinal de qualquer problema, uma dessas defesas pode ser activada. Nesta confusão de identidade, o adolescente pode-se sentir vazio, isolado, ansioso, e também, muitas vezes, incapaz de se encaixar no mundo adulto, o que pode levar a uma regressão. Também pode ocorrer uma projecção das suas tendências noutros indivíduos, por não suportar a sua identidade. Aliás, este é um dos mecanismos apontados por Erikson como base para a formação de preconceitos e discriminações. Porém, a confusão de identidade pode ter um bom desfecho, relativamente à crise, pois quanto melhor o adolescente tiver resolvido as suas crises anteriores, mais possibilidades terá de alcançar neste estádio a estabilização da identidade. 
Os problemas no desenvolvimento da identidade podem culminar numa identidade difusa, numa identidade bloqueada ou numa identidade negativa, em que o adolescente capta identidades que não são para a sua família e para a sua comunidade. Por outro lado o indivíduo poderá ter sentimentos relacionados com confusão/difusão de quem ainda não se descobriu a si próprio, e não sabe o que pretende, tendo dificuldade em optar. É de referir que nesta idade emergem um conjunto particular de valores. Na recta final da adolescência o indivíduo obtém uma “identidade realizada”, conhecida igualmente por identidade adquirida.


Comentário: Nesta fase denota-se, portanto, o conflito identidade versus confusão. Nos estudos de Erikson, toda a preocupação do adolescente na procura de um papel social, provoca uma confusão de identidade, afinal, a preocupação com a opinião alheia faz com que o adolescente modifique as suas atitudes constantemente, remodelando a sua personalidade muitas vezes num curto período de tempo, seguindo o mesmo ritmo das transformações físicas que sofre.


O sexto estádio – intimidade/isolamento – ocorre entre os 18/20 e os 30/35 anos, aproximadamente.
Neste estádio, o jovem adulto ambiciona estabelecer relações de intimidade com outros, adquirindo também a capacidade necessária para o amor íntimo
O indivíduo ao estabelecer uma identidade definitiva e própria, está pronto para se unir a outrem. Este procura desenvolver relacionamentos de intimidade, parceria e associação, e está preparado para despender a força necessária para cumprir esses cumprimentos, ainda que para isso tenha de fazer sacrifícios. Neste estádio existe, então, a possibilidade de associação com intimidade, parceira e colaboração. Pode-se agora falar na associação de um ego ao outro, contudo, esta associação, para ser positiva, carece de uma boa construção e fortificação do ego desenvolvido ao longo dos ciclos anteriores, que se não for forte, autónomo e seguro de si, irá sentir-se anulado perante o outro.
A vertente negativa deste estádio, traduz-se no isolamento do indivíduo que não é capaz de compartilhar afectos íntimos nas relações privilegiadas O perigo que este estádio apresenta é o isolamento, a evitação dos relacionamentos quando a pessoa não se predispõe ao compromisso com a intimidade.
A competência dos indivíduos no estabelecimento das relações é caracterizada pela capacidade de partilha e de mutualidade desenvolvidas até então. Estas relações podem ser íntimas, e existirem mesmo na ausência física do companheiro, assim como o isolamento pode existir mesmo na presença deste, relação na qual ambos adoptam uma postura e comportamento defensivo perante a necessidade de fazer face ao próximo estádio de desenvolvimento, a generatividade.

Comentário: As relações tenderão, então, a ser estereotipadas.

O sétimo estádio – generatividade/estagnação – ocorre entre os 30/35-60 anos, aproximadamente.
Neste estádio verifica-se o conflito entre a generatividade – o indivíduo sente o desejo de educar, cuidar, criar – e a estagnação – preocupação egocêntrica. O principal objectivo do indivíduo é gerar, criar, ao nível profissional e pessoal. Há uma tentativa de gerar algo que possa ser transmitido à geração seguinte. O indivíduo sente orgulho pelo que construiu ao longo da vida e tenta dar algum sentido àquilo que fez. É aqui que surge o altruísmo, o valor que representa a preocupação com os outros, em que ocorrem grandes reflexões sobre a vida e o mundo. A virtude própria deste estágio é o cuidado, a inquietação com os outros, o querer fazer algo por alguém.
No entanto, caso o indivíduo sinta que aquilo que construiu e os valores que adquiriu ao longo da vida não merece ser transmitidas aos outros, fechar-se-á em si mesmo, estagnando o processo e preocupando-se apenas com o seu bem-estar, tanto físico como material.

Comentário: A sua personalidade não é mudada, mas sim enriquecida, através dos conhecimentos que daí advêm. Por vezes, o indivíduo torna-se autoritário pois como é mais velho, sente que lhe devem obediência e que devem escutar as suas ideias

Por fim, o oitavo estádio – integridade/desespero – ocorre a partir dos 60 anos e é favorável uma integração e compreensão do passado vivido.
Neste estádio incluem-se os indivíduos que têm mais de sessenta anos de idade, ou seja, os indivíduos em idade de reforma, e os sentimentos predominantes nele são a integridade e o desespero. O indivíduo tem um olhar retrospectivo, ou seja, revê tudo aquilo pelo que passou ao longo da sua vida, as escolhas, aquilo que realizou e onde fracassou. Quando o indivíduo sente que o papel que desempenhou ao longo da sua vida foi cumprido e que os conhecimentos que detém são dignos de passar aos seus descendentes, o indivíduo sentir-se-á integro. Para além disso, o indivíduo tentará integrar todo o seu passado pela aceitação da vida, ou seja, irá aceitar que tudo tem um início e o fim e que a sua vida está próximo.
No entanto, neste estádio pode não ocorre o sentimento de integridade mas sim, pelo contrário, o sentimento de desespero. Este sentimento de desespero ocorre quando o indivíduo sente que nada fez ao longo da sua vida, que o tempo de vida que lhe resta não é suficiente para recomeçar de novo, para experienciar aquilo que não experienciou, ou seja, a sua vida não faz sentido. Para além destas razões existem outras para que o indivíduo sinta desespero, tais como a não aceitação da morte e até mesmo a sociedade, pois esta, por vezes, diminui os indivíduos física, social e intelectualmente

Comentário: A virtude que irá resultar deste estádio é a sabedoria, tendo em conta “o fim da sua vida” e a vontade de transmitir aos seus tudo o que aprendeu numa vida.
Apresentamos aqui um pequeno crucigrama para tornar a tua aprendizagem mais divertida.

P





S











I







C











O



L









O
















G





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A


1. Quem apresentou estes 4 estádios de desenvolvimento: sensório-motor; pré-operatório; operações concretas; operações formais.
2. Conhecimento adquirido através de experiências vividas.
3. Disciplina que deriva a Psicologia.
4. Piaget apresenta o desenvolvimento...
5. O que ajuda na influência do desenvolvimento para além da hereditariedade.
6. Fase do desenvolvimento humano que marca a transição entra a infância e a idade adulta.
7. Apresenta o Behaviorismo.
8. Estudo do desenvolvimento moral.
9. Apresenta a consciência como um ponto fulcral.
10. Aquisição da linguagem e o desenvolvimento das habilidades cognitivas são resultados da interacção entre as forças da maturação e de ...

Desenvolvimento Humano

TRANSIÇÃO DA INFÂNCIA PARA A ADOLESCÊNCIA

        Adolescência é a fase do desenvolvimento humano que marca a transição entre a infância e a idade adulta. Com isso essa fase caracteriza-se por alterações em diversos níveis - físico, mental e social - e representa para o indivíduo um processo de distanciamento de formas de comportamento e privilégios típicos da infância e de aquisição de características e competências que o capacitem a assumir os deveres epapéis sociais do adulto.
        A adolescência 1- o tempo das grandes transformações
        A adolescência 2- a construção da identidade
        No plano cognitivo esta fase da vida é marcada, segundo Piaget, pelo surgimento das operações formais. As operações, isto é, as acções mentais de combinar, separar e transformar informação de um modo lógico, tornam-se lógico-abstractas, não se limitam à consideração de objectos presentes. A transição da adolescência para a idade adulta é acompanhada pelo desenvolvimento de uma forma nova de pensar.
No plano moral, o raciocínio começa a questionar e a ultrapassar as convenções sociais  e a elevar-se a princípios abstractos como o bem e o mal. O idealismo da adolescência, fermento de transformação social, fundado na capacidade de equacionar possibilidades, traduz esta relativa superação dos limites convencionais. As capacidades do adolescente  para pensar para pensar de forma abstracta, imaginar situações hipotéticas e comparar ideias com o mundo real influenciam a sua forma de pensar no que diz respeito a assuntos morais. 
        Com a entrada na adolescência, em consequência do desenvolvimento cognitivo e do pensamento característico das operações formais, existem novas possibilidades oferecidas pela capacidade de abstracção. As auto-descrições concretas, centradas em aspectos comportamentais e externos, características das crianças, são substituídas, na adolescência, por auto-descrições mais abstractas e centradas em aspectos internos e psicológicos dos comportamentos (Harter, 1983, 1993, 1999).
        Ora, se esta passagem do concreto e observável para o abstracto, não observável e hipotético é considerada um avanço em termos cognitivos, também pode representar, tal como todos os aspectos do desenvolvimento, uma “faca de dois gumes”para o indivíduo, pois o mais desenvolvido traz consigo o não observável, o abstracto, logo, as auto-descrições estão mais sujeitas, na adolescência, a distorções e a enviesamentos cognitivos, o que pode implicar que o auto-conceito do adolescente se possa tornar mais irrealista e, até, conduzir a comportamentos desajustados (Harter, 1993).
        Assim, temos adolescentes que desvalorizam as suas capacidades, que não acreditam em si próprios e que, por isso, abandonam, desistem e evitam as situações que os desafiam e que podem pôr em causa o seu auto-conceito, desenvolvendo reacções emocionais desajustadas, ansiedade, depressão e “abandono aprendido” (Fontaine & Faria, 1989). Ou então, temos adolescentes que devido a uma sobreavaliação das suas reais competências, aceitam tarefas demasiado exigentes, para as quais não têm competências ou preparação, conduzindo ao fracasso, ou, pelo contrário, evitam o desafio porque este pode pôr em causa um auto conceito irrealista e frágil, que necessitam de proteger a todo o custo (Harter, 1993).